(Roubei esse título do pavilhão brasileiro na Bienal de Veneza, na qual eu dei um rolé pela primeira vez nessa quarta-feira. Eu moro a duas horas de Veneza, já fui lá três vezes. Loucur4.)
Depois de um mês e meio estou começando a me adaptar à rotina do UWC (que é difícil de explicar e mais difícil de entender). Tentarei quebrar essa experiência em pequenos tópicos ou pensamentos e escrevê-los aqui. Prometo. Mas o problema de acumular tudo é que não existe mais um começo, existem eternas possibilidades de começar. haha
Eu estou em Trieste.
Antigo Império Austro-húngaro, Itália depois da Primeira Guerra Mundial.
Terra da massa duas vezes ao dia no refeitório e da pizza toda semana. Vinho e cerveja, duas taças, com moderação.
Falam italiano, friulano e ciao.
Mas não falam sorrisos como no Brasil.
Onde a primeira coisa que aprendi a falar em italiano foi pedir gelato (muito diferente do nosso sorvete, não dá pra confundir).
E não existe J no alfabeto.
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Da minha varanda eu enxergo (literalmente) três países diferentes: Itália, Eslovênia e Croácia.
E no meu corredor moram todos esses e muito mais.
Estou a norte no país que recebe alunos de mais de oitenta nacionalidades em prol da paz e de um futuro (presente) sustentável e que a sul
recebe naufrágios.
E a gente fala sobre isso. E eu ouço minha amiga síria falar sobre isso.
E os italianos, húngaros, alemães.
Já ouvi tanta coisa.
Nem sempre fico confortável.
Aqui a gente aprende a respeitar.
E aprender que se sabe menos do que se pensava saber e aprender a ouvir
é necessário e muito valioso.
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Eu moro ao lado de um castelo,
10 minutos do porto, à beira do Mar Adriático, em cima do refeitório, numa residência chamada Foresteria, num quarto com uma italiana e uma alemã, e minhas vizinhas da frente vêm da Bulgária, Rússia, Áustria e Hong Kong.
Juntar três continentes não é uma tarefa difícil aqui.
Não é difícil também filosofar sobre minha cultura e como eu a cultivo dentro de mim. Então,
Desenvolvi a teoria de que todo brasileiro quando nasce é presenteado com um chinelo e cresce dentro desse chinelo.
Eu moro no meu chinelo.
Eu moro no pensamento e coração de todos os meus queridos no Brasil.